Celebrada no dia 11 de fevereiro, data propõe o fortalecimento da igualdade entre mulheres e homens na área de Ciência e Tecnologia
Jaleco, luvas, tubos de ensaio. Se esta clássica imagem é, geralmente, associada a personagens masculinos, a inserção de mulheres nos laboratórios e universidades vem contribuindo para a quebra do imaginário relacionado à figura do cientista. Ainda assim, muito há por ser feito no que diz respeito ao incentivo ao público feminino nas carreiras ligadas à Ciência e Tecnologia (C&T). Nesse sentido, o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, celebrado em 11 de fevereiro, busca criar uma janela de visibilidade e suporte às pesquisadoras e futuras cientistas.
Em Sergipe, centenas de mulheres integram as equipes das instituições de ensino e pesquisa, desenvolvendo trabalhos nos mais diversos ramos científicos. E o apoio do poder público, seja técnico ou financeiro, é fundamental para a projeção dessa produção. Exemplo é o suporte prestado às pesquisadoras pelo Governo do Estado, por meio da Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica (Fapitec/SE), do Sergipe Parque Tecnológico (SergipeTec), do Instituto Tecnológico e de Pesquisas do Estado de Sergipe (ITPS) e de outras organizações.
A pesquisadora Patrícia Severino, que coordena um projeto na área de Farmacologia, é uma das especialistas que contam com o incentivo do Estado. Apoiada pela Fapitec, Patrícia assina um dos 32 projetos de pesquisa em vigor na instituição que são coordenados por mulheres. Além destes, outros 24 projetos com coordenação feminina são atualmente desenvolvidos pela Fundação junto à Rede Pública Estadual de Ensino.
“Sempre participo de propostas disponíveis na Fapitec, como programas de mobilidade acadêmica e de iniciação científica, entre outros. Como proponente, sempre busco inserir meninas nos projetos, a fim de utilizar a pesquisa como uma ferramenta de conhecimento científico e de transformação social, especialmente impulsionando as meninas na área da Ciência da Saúde”, afirma.
Histórias
A pesquisadora Samia Maciel é doutora em Engenharia de Processos Químicos e Bioquímicos, mestra e bacharela em Engenharia Química. Atualmente, integra o Núcleo de Energias Renováveis e Eficiência Energética de Sergipe (Nerees), vinculado ao Governo do Estado via SergipeTec. Para Samia, o desejo pela carreira científica começou logo no início da graduação.
“Minha história na ciência iniciou-se aos 18 anos, quando fui convidada para ser bolsista de iniciação científica na Universidade Federal de Sergipe. A princípio, nem sabia o que era ser cientista, mas foi só questão de tempo. Fiquei encantada pela profissão, que me permite promover soluções inovadoras para a sociedade, e estou há 15 anos imersa no mundo científico”, conta.
Na área de Química Industrial, a pesquisadora Lúcia Calumby iniciou sua carreira científica ainda nos anos 80. Começando como estagiária no ITPS, Lúcia chegou à presidência do órgão, sendo a primeira e única mulher a assumir este cargo até então. “Na época da escolha do curso, ainda era incomum ver mulheres na área da Química. Sinto-me bastante grata e feliz por ter contribuído na gestão do ITPS, do qual faço parte hoje como diretora técnica. E considero de vital importância a participação do governo para o desenvolvimento da C&T no país, seja no apoio ao lançamento de editais, seja no apoio à aquisição de equipamentos”, resume.
A médica e pesquisadora Amélia Maria Ribeiro de Jesus coordena um dos projetos apoiados pela Fapitec, na área de Imunologia. Em seu currículo, a especialista acumula cerca de 120 trabalhos científicos publicados, 140 participações em congressos e 30 participações em projetos de pesquisa nacionais e internacionais, além de mais de 90 orientações. Para ela, as oportunidades de pesquisa para mulheres vêm crescendo. “O incentivo das fundações de apoio dos estados e o fato de os projetos concorrentes em editais serem avaliados por comitês escolhidos democraticamente fizeram com que houvesse certo aumento”, pontua.
Equidade
Casos bem sucedidos como os de Patrícia, Samia, Lúcia e Amélia não refletem, infelizmente, a realidade no campo de C&T. Dados da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), de 2020, dão conta de que, globalmente, 71% dos pesquisadores universitários são homens. Apenas 3% dos prêmios Nobel de ciências foram concedidos a mulheres. E, no Brasil, a representação de mulheres em cargos de liderança na área de Ciência e Tecnologia está entre 0% e 2%.
“Apesar de a presença feminina na ciência existir há muito tempo, as mulheres enfrentam desafios e preconceitos que tornaram o percentual de participação nesta área bem inferior, se comparado, mundialmente, com o gênero masculino. Contudo, observa-se uma crescente participação das mulheres atualmente devido à luta de cientistas e inventoras que servem de inspiração a nós, bem como o incentivo de órgãos públicos”, frisa Samia Maciel.
Patrícia Severino enfatiza que, além de ocupar vagas de trabalho, é necessário também que mulheres assumam postos de liderança na área de C&T. “Ainda temos alta representatividade na base, e minoria no topo. Eu espero que a sociedade reflita sobre o tema da equidade de gênero na ciência, e possa abrir oportunidade para as mulheres”, expõe.
Debate
A inclusão de mulheres e meninas na ciência é um assunto que diz respeito também aos homens. Para que elas assumam mais posições de protagonismo, é necessário que eles reconheçam seus privilégios e se tornem aliados no debate sobre equidade. Segundo o engenheiro de software Ricardo dos Santos, que atuou como instrutor de uma turma de jovens pesquisadoras no programa Futuras Cientistas, é necessário questionar padrões.
“É preciso contribuir para a quebra do paradigma no qual se naturalizou a cultura machista e patriarcal. Nas áreas onde tenho formação e atuo, que são Comunicação, Educação e Computação, as mulheres ocupam lugar de destaque. Nesta última, a presença feminina tem aumentado com o tempo”, ressalta.
O programa Futuras Cientistas é promovido pelo Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene), com o apoio do Governo de Sergipe, por meio do SergipeTec. Seu propósito é o de estimular a adesão de mulheres a carreiras nas áreas científica e tecnológica. Segundo Ricardo, que ficou responsável pela condução da turma de robótica, a experiência foi extremamente positiva. “As alunas utilizaram o conhecimento adquirido no programa para automatizar processos ligados ao aproveitamento de resíduos”, explica.
Também na área de Computação, a professora Josiane Lopes, do Instituto Federal de Sergipe (IFS), vem apostando na formação de alunas na área de Tecnologia. Josiane é a coordenadora do projeto ‘InfoWoman – Meninas Conhecendo o Encanto da Computação’, implantado no Campus Propriá. O projeto também recebe suporte da Fapitec.
“O projeto possui uma força gigante para apresentar o protagonismo feminino. As estudantes de iniciação científica tiveram a oportunidade de ir para outros estados falar sobre as atividades desenvolvidas no nosso projeto. Elas desenvolveram alguns jogos educacionais bem interessantes, e conseguimos publicar esse trabalho no Simpósio Brasileiro de Games”, narra.
Além de iniciativas que promovem a inserção do público feminino na ciência, é necessário trazer a discussão à tona publicamente. Nesse sentido, o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência leva o intuito de fortalecer o compromisso global com a igualdade de direitos entre homens e mulheres. A instituição da data ocorreu em 2015, por iniciativa da Unesco.
Data
Para a pesquisadora Patrícia Severino, o 11 de fevereiro propõe uma reavaliação sobre o progresso da carreira das mulheres na ciência. “Vislumbro consciência das autoridades sobre a igualdade de gênero, assim como maior acesso a recursos para produzirmos ciência e tecnologia de qualidade. Assim, poderemos alavancar o desenvolvimento econômico e social do Brasil”, avalia.
De acordo com Amélia de Jesus, a data reflete a necessidade de incentivo e segurança por parte das mulheres. “Há um sentimento de inferioridade em algumas mulheres, principalmente pela forma com que alguns homens interagem com elas, exercendo papel de poder e assédio moral e sexual. Por isso, é ainda importante ter uma data como essa”, diz.
Já Samia Maciel considera o dia como um momento de reflexão. “É uma data de extrema relevância para a sociedade, pois visa destacar o acesso integral e igualitário de mulheres e meninas na ciência, reforçando o reconhecimento do nosso potencial intelectual em contribuir para o avanço da ciência e tecnologia no mundo”, conclui a engenheira química.
Fonte: Secom